Um jardim meio caótico do lado de fora e um caminho apenas de grama até a porta de entrada. Uma casa pequena com piso de madeira, paredes que separam apenas o banheiro e o mundo lá fora. Um escrivaninha antiga e escura, com marcas do tempo e gavetas que emperram. Uma máquina de escrever barulhenta, com rabiscos a caneta. Em cima dela, duas pilhas de folhas: uma só com as brancas e a outra com as preenchidas de histórias. Um tapete enorme e felpudo, almofadas espalhadas. Montanhas de livros por todos os lados, uma poltrona de gosto duvidoso, janelas altas de frente para o sol – mas com cortinas com blackout bom o suficiente para tampar toda a luz quando necessário, um telefone de fio e o cheiro de café pronto dançando por todo o ambiente.
Apesar de não beber café – porque é uma porrada na minha ansiedade que tenho que domar diariamente, é assim que eu me descreveria. Passei um bom tempo tentando entender se eu estava mais pra luz ou escuridão, uma criatura diurna ou noturna. E aí eu desisti de procurar essa resposta. Não porque tive um momento iluminado e bonito onde achei todas elas e me acolhi, mas porque rodei, rodei e não saí do lugar. Eu sou capaz de brilhar feito o sol num instante e no seguinte, ser aqueles segundos de escuridão total tipo quando alguém apaga a luz em um ambiente muito claro e seus olhos demoram a acostumar.
Eu nunca atravesso a rua quando a preferência é minha e o carro é obrigado a parar porque odeio a ideia de incomodar. Eu uso óculos de sol mais pra tirar foto do que proteger meus olhos porque eu gosto de sentir o calor do sol entrando em contato com cada centímetro da minha existência. Eu tenho tentado passar sabonete no banho com mais delicadeza porque notei que sempre me esfrego como se tivesse suja há semanas e não consigo dar uma ‘geral na casa’, quando eu começo a limpar, geralmente eu demoro horas até sentir que esfreguei tudo tão bem quanto eu me esfregaria no banho.
Não me sinto confortável com ninguém de primeira, a verdade é que demoro um tempão pra ficar relaxada na presença de pessoas e confio cem por cento nas opiniões dos meus amigos. Eu esqueço as coisas com facilidade, tenho TDAH, mas minha memória é ruim naturalmente, então tenho bloquinhos e canetas espalhadas por toda a casa.
Me sinto um livro aberto com alguns códigos indecifráveis. Prefiro Toddy a Nescau e tenho um pensamento intrusivo recorrente de largar tudo e montar uma barraca na praia.
Comecei a escrever essa newsletter porque tenho muita conta pra contar e muita história pra inventar. Mas achei necessário compartilhar um pouco sobre quem está aqui do outro lado da tela.
Também acredito que ao escrever e compartilhar qualquer coisa num lugar público é um ato corajoso de dar um pedaço de mim, e que a recompensa de ter você lendo é a maior que eu poderia ter.
Prazer e obrigada,
B.
você é incrível e uma presença avassaladora em qualquer lugar do mundo!